tinta permanente - João Pires - "A boleia de Andreia"
Ela morava numa curva da estrada nacional, numa barraca velha feita de cartões, no lado oriental da cidade, no lado errado do caminho. Às vezes, no trajecto para a cidade eu perguntava: - Mãe, podemos dar-lhe boleia? Por vezes ao passar por ela, fazíamos com que ela rodasse a sua cabeça de alegria até perceber que o carro tinha parado para lhe dar boleia. E suas mãos balanceavam com a brisa. Olhos selvagens, verde-esperança, loucos os de Andreia. Na descida ao longo da estrada, passando à porta do Xico, o velho carro azul que já foi de corrida, cruzou a mercearia da esquina com o letreiro à porta “ Vadios longe desta porta ”. Mas o pequeno grupo de maltrapilhos com garrafa na mão ali mesmo à conversa, não sabia ler. Numa noite de trovoada rachando misericórdia dos céus até à terra, Andreia na sua barraca de cartão, apoiada à janela, sonhava que estava a voar alto, muito acima das árvores, sobre as colinas. Mas o lhou em seu redor e apenas viu paredes for...