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A mostrar mensagens de agosto, 2014

Escola primária

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A campainha ainda ressoava pelos ares, mas a maioria dos alunos já tinha saído da sala de aulas. era a última manhã e todos já se encontravam próximo do autocarro. Não esqueçam de fazer o trabalho para casa, gritou a professora. Escola Primária Até segunda, respondeu uma voz divertida e estridente. Era sexta feira. Veio à lembrança o andar sozinho. A mulher-a-dias teria partido ao meio dia. A roupa estava passada a ferro e depositada no tabuleiro, para ela distribuir pelas gavetas. Os jarros lavados, no balcão da cozinha, as flores e a folhagem no balde de plástico, o almoço no fogão e a mesa posta. A Elsa teimava em pôr-lhe a mesa e em não se servir do tabuleiro, que ela usava ao fim de semana, sem paciência para se servir a si própria. Não era ainda primavera, mas respirava-se um sol que as violetas do jardim, que se viam da janela da sala de aula, aprisionavam nos caules verdes. por João Pires

Violetas à beira do rio

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À beira do rio nascem violetas ao comprido lá dizia a canção.  Mas não ali. Ali nasciam detritos e a miséria cobria os homens duma lepra espessa que os deformava. Enxames de criançada procuravam horizontes e aventura no rio podre, estagnado ao sol, como um bicho morto. Barcaças negras, dum negro mineral de carvão, mais negro que a faina dos carrejões, suados, arquejantes sob os sacos, oscilavam, molemente ao ritmo, lento, das águas. Nas escadas as mulheres lavavam e havia estendais de trapos e roupas pobres nas amarras. Pormenor da Ribeira do Porto De costas para a margem, viradas para a margem, viradas para a amalgama do casario, telhados tortos cheios de musgo e líquenes, fachadas ocres avinhadas, dum brilho embaciado de azulejos antigos, que o granito dos cunhais sujava e envelhecia ainda, erguiam-se as barracas do mercado. Ouviam-se as vendedeiras a tentar a freguesia.

O Zarolho

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No dia em que o meu pai comprou o peixe vermelho para o aquário , ela passou horas seguidas a vê-lo nadar de um lado para o outro. E foi ela que, de repente, descobriu: - Mas este peixe só tem um olho! Peixe Zarolho Corremos todos ao aquário. Era verdade. O peixinho vermelho, acabado de chegar a nossa casa, não tinha o olho direito. Nem sinal dele. - Para que quero eu um peixe zarolho cá em casa? - disse logo a minha mãe, que não gosta lá muito de bichos. - Mas ele com um olho vê tão bem como com dois - disse o meu pai. - Olha como ele encontra logo a comida que a gente lhe deita... Lembro-me: o peixinho corria, feito doido, de um lado ao outro do aquário mal a água se enchia de pequeninas folhas rosadas que vinham dentro de um frasco que o pai comprara com ele. E era tão engraçado quando se virava do lado em que devia haver um olho e não havia... "Rosa, Minha Irmã Rosa" "Rosa, Minha Irmã Rosa" Alice Vieira Caminho